Eu sempre gostei de trabalhos manuais, artesanais, artísticos. Mas, diferente da maioria das pessoas, nunca fui de ir na loja e comprar tudo de ideal para a execução do trabalho. Até porque sempre me sentia perdida nesses momentos, querendo comprar tudo ou cheia de dúvidas do que pegar. Gastava uma fortuna e comprava coisas que nunca usava.
Comecei escrevendo sobre as primeiras aventuras da Valentina. Parei - vida de mãe não é fácil... mas segui escrevendo aqui e ali, desde rascunhos de papel de pão à bloco de notas do celular. Até que resolvi juntas as palavras de novo em um só lugar e esse espaço ganhou uma vida além da Valentina. Aqui escrevo sobre as aventuras da Ursula: pensamentos, relfexões, trabalho, arte, vida. Vale de tudo um pouco, desde que honesto. E minhas palavras sempre são honestas.
segunda-feira, 11 de março de 2024
Novas e belas obras
domingo, 30 de julho de 2023
Ah, vó… ❤️
Acordei emotiva…
Meu irmão acabou de me mandar essa foto e tanta coisa me passou aqui… em especial memórias da minha avó. Sei que ela foi embora em paz e na hora certa, mas sinto saudades.Muitos anos antes de morrer ela já quase não saía de casa. Mas era impressionante como ela era o centro, ali do alto da cadeirinha de balanço. A família girava em torno dela e ela sempre estava a par de tudo - “Rádio Carvalho” para os mais chegados.
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Era uma leitora voraz: todos os dias lia todos os jornais impressos que assinava além das inúmeras revistas dos assuntos mais diversos. Decoração, moda… sempre achei intrigante esse hábito da vovó - o que raios ela queria com o último grito da moda? Mas acho que era uma forma dela se conectar com o mundo que já via muito pouco. E isso, junto com as incontáveis cruzadinhas que preenchia diariamente, manteve a cabeça dela em pleno funcionamento até seu último dia de vida. Lembrarei disso daqui a pouco…
Quando eu disse pra ela que estava grávida e que ela se chamaria Valentina se fosse menina, vovó riu e falou pausadamente VA-LEN-TI-NA! E em seguida “não acha muito comprido não?!” Ah, vó… ❤️
Quando eu ia sair - e teve uma época em que eu saia muito! - ela sempre, sempre, sem nenhuma excessão, virava pra mim e falava “não vai levar um casaquinho, não?!” E eu, num misto de amor e rebeldia, respondia com carinho que não.
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A lembrança mais nostálgica que eu tenho sua é do pão careca com “prisunto” regado a coca cola no domingo de noite. Essa até meu irmão, que de saudosista não tem nada, lembra. Fantástico na televisão e pão careca com “prisunto” para fechar o domingo. Queria repetir igualzinho agora…
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“Faxavor” era uma clássica! Assim como “Que Deus lhe pague e lhe crie para a boa sorte”. Eu adorava quando ela falava essas coisas!
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Um dia ela quebrou o fêmur quando caiu e precisou operar. Eu não morava mais no Rio e gelei com a notícia. Vim correndo pra cá, às pressas, porque senti que ia perdê-la. Cê acha?! A coroa operou, se recuperou e voltou pra casa serelepe - não antes de reclamar da comida do hospital. Hahaha e muito antes do que esperávamos você já estava andando, vó! Que alegria!
Olhando pra ela naquela época eu percebi como é a evolução da gente na vida. A gente nasce e morre criança. Isso não é de todo mal.
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Na última vez que a vi, pouco antes de morrer, eu não consegui me despedir. Entrei na sala e você estava dormindo de ladinho na tal cama. Já não mais roliça e cheia de vida. Eu te senti murchinha, vó… e tive a certeza que seria nosso último encontro. Permiti que fosse sereno e sem um adeus. Eu não queria te dar esse adeus.
Não sei se nós encontraremos de novo, vó, mas você está em mim e te sinto no meu coração todos os dias da minha vida. Você continua cuidando de mim e sou muito grata por isso!
Reflexões sobre fé
Quando você é criado em um lar onde não se fala em Deus, não se fala em algo além do material, onde a visão de vida é “morreu acabou”, é bem mais complexo esse assunto.
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Quando meu pai morreu, foi a primeira vez na vida em que eu me senti sem chão. Meu pai era meu pilar, minha referência de amor e um dia ele não estava mais aqui.
Eu chorava, muitas vezes, querendo acreditar em algo. Buscando uma paz que eu não sabia onde encontrar. Foi muito difícil pra mim.
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Eu comecei a buscar meu caminho espiritual bem mais tarde. Porque mesmo não conseguindo “dar forma”, meu coração sabia que existia algo a mais do que eu conseguia ver. Mas até hoje são crenças meio amorfas… isso tudo chegou junto com minha busca por autoconhecimento. Curioso isso… à medida em que eu fui me conhecendo mais, rolou uma espécie de lapidação da Ursula - com uma busca por alguém melhor pro mundo e pra mim e, somado a isso, alguém com mais fé. Um caminho que não foi nem será regular, tampouco bem delineado. Mas que está sendo construído diariamente.
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Hoje, sobretudo, procuro ter uma conduta baseada em bons valores e boas práticas. Coisas simples como espalhar amor e não reclamar de tudo o tempo todo. Procuro entender (e construir dentro de mim) que existe uma força maior regendo a vida. Deus?
Gosto de pensar no universo como esse algo maior. Na natureza como Deus - aí sim! Um Deus que eu não consigo enxergar em um templo, mas que eu sempre vejo do alto da montanha - não à toa busco sempre passar por lá…
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Acredito em boas energias e em boas vibrações e entendo que se eu fizer coisas com amor e tiver, de fato, amor no meu coração, minha vida se cercará de positividade e eu receberei verdadeiros presentes - sendo os mais importantes sem forma de coisas, mas de pessoas.
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Obrigada, universo.
Por tudo, por tanto.
Meu pai, meu papanungai
Minha referência de amor. Minha referência de tranquilidade e de forma de enxergar a vida. A conexão que a gente tinha era tão incrível que muito do que eu sou hoje, veio dele. Ele era meu “papanungai”, e eu a “brutchununguinha” dele.
Sempre foi meu pilar, meu porto seguro. Além de um acadêmico que deixou um legado incrível e marcou a vida de muitos dos seus alunos.
Um pai que educou uma prole honesta, de quatro filhos. Acho que ele teria tido mais até. Amava criança e elas amavam ele. Sempre tinha uma piada, um doce, uma charada ou uma brincadeira inusitada.
Foi o pior pescador que eu já conheci nessa vida e o pior motorista também. Sério, não deveriam deixar meu pai ter tirado carteira!
Ele via beleza nas pequenas coisas, se encantava com o sutil e mergulhava com total atenção no que quer que tivesse fazendo. Sabia bem o que era mindfullness muito antes da moda pegar. Era sábio, meu velho.
No cinema eu tinha vergonha dele. Na hora que todo mundo estava rindo, meu pai ficava estático. E quando estava aquele silêncio completo, na cena mais inusitada, ele rolava de rir. Gente, ele quase caía da cadeira, que vergonha!
No ônibus ou no trem, sempre cedia o lugar. Ele era de uma gentileza sem tamanho, que fazia mais bem pra ele mesmo do que para quem ele atendia.
Inventava músicas para tudo. Para a hora de comer, de tomar banho, de passear, de dormir. Musicava o medo dos filhos e transformava lobo em bolo em dois tempos. Nossa, como eu sinto falta disso.
Era químico, mas amava instrumentos, sendo a flauta doce a grande escolhida. Meu pai era doce.
Tinha uma oficina completa no sítio, onde ele fazia desde móveis, peças de xadrez (jogo que, por sinal, ele amava), até onde se aventurava a consertar os carros velhos e caquéticos que durante muito anos ele teve. Ah! E que eram apelidados carinhosamente sempre, com nomes de gente.
Era um idealista nato. A (quase) inocência dele era muito bonita. Via Deus como a natureza (como eu vejo), sempre criou galinhas e construiu uma secadora de bananas enorme, de onde saíam as melhores bananas passas do mundo!
Nunca tive resposta para o porquê dele ter ido embora antes da hora. Ele foi embora antes da (minha) hora...
Mas aprendi a enxergar sua ida com o mesmo otimismo que ele enxergava a vida. Como sou grata por tudo que vivi, que senti, que construí ao lado dele. Feliz de quem conheceu Reinaldo. Hoje tem festa no céu pela data do seu aniversário.
Brindarei por você daqui, eu pai, meu papanungai.
Eu posso muitas coisas
Minha lista do “não posso” agora tá grande... Tão grande que dá raiva, às vezes tristeza, as vezes angústia e quase sempre cansaço. Tenho me sentido cansada emocionalmente.
Mas desde que eu ouvi a @babi__amaral falar que “tem algo de incrível acontecendo agora”, que eu mais que resolvi alimentar a minha lista do “eu posso”. Na verdade essa é a filosofia de vida que eu tenho, faz tempo, buscado: reclamar menos e desfrutar e agradecer mais. Olhar com satisfação e amor para tudo que eu tenho e aceitar de forma mais leve o que eu não tenho.Eu posso me privar de umas horas de sono para ver o nascer do sol. Para sentir a paz que me dá o barulho das ondas; a energia que me nutre meditando na praia.
Foi uma delícia ver o senhor se movimentando antes do dia clarear; o casal apaixonado fotografar animado seu amor; a nadadora, ainda meio dormindo, se alongar antes de cair no mar; uma revoada de pássaros lá no alto, numa expressão máxima de liberdade.
Não nego a dor, a privação, a dificuldade. Mas eu posso muitas coisas. E isso é muito mais sobre como enxergar a vida do que de fato ter a vida perfeita.
A morte da dor. E do sentimento.
O que acontece com o pé do atleta no lugar onde sempre faz bolha?! Com o passar do tempo, vira calo.
O calo é uma pele dura, resistente à dor. Mas é uma pele também sem sensibilidade - já passou o dedo em cima de um calo? Você não sente nada, nadinha.Acho que é isso o que vai acontecendo com o ser humano ao longo da vida. De tanto as bolhas insistirem em se formar, os calos vão chegando. A gente vai ficando super resistente aos atritos! Quase não sente mais aquela dor amiga que volta e meia insistia em chegar.
Mas o que acontece com a sensibilidade naquela região?! Vai sendo perdida também.
A morte da dor. E do sentimento. Que triste.